http://doi.org/10.14718/revfinanzpolitecon.2019.11.1.1
Editorial
Verel Elvira Monroy Flores*
* Doutoranda em Ciências Sociais, mestra em Deficiência e Inclusão Social, Editora da revista Finanzas y Política Económica, da Universidad Católica de Colombia.
E-mail: revistafinypolecon@ucatolica.edu.co.
https://orcid.org/0000-0002-4681-1576
Na atualidade, a América Latina, diante da prevalência da pobreza, da deterioração ambiental, da violação de direitos, da violência, entre outros, expressa a urgência de restaurar os debates sobre o desenvolvimento e propor alternativas a este que permitam uma melhor vida. Durante o século XX e as primeiras décadas do século XXI, a região enfrentou problemas econômicos resultado do colonialismo e do imperialismo, ao que se soma a instabilidade política e social de cada país do continente. Tudo isso lhe imprimiu uma marca de região subdesenvolvida e, em resposta a essa situação, surgem propostas teóricas ad hoc com alternativas e soluções a suas problemáticas particulares.
Contudo, o convencionalismo das teorias alternativas e dos posicionamentos clássicos não tem permitido ressignificar o problema do desenvolvimento na América Latina; ainda, somado à instauração de regimes progressistas, principalmente no sul do continente, o saldo dessas gestões é negativo, pois, embora 26 países dentro da região sejam classificados como de renda média e quatro tenham ascendido como nações de ingressos altos (Bahamas, Trinidad e Tobago, Bermudas e Chile), quase 30 % da população na região vive abaixo da linha de pobreza, enquanto 12% estão abaixo da linha de indigência (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento [PNUD], 2016). Além disso, o crescimento tem desacelerado quase em nível generalizado e têm ressurgido fenômenos como a hiperinflação (principalmente em países como Argentina e Venezuela) e crise de legitimidade (Brasil, México, Venezuela), ao mesmo tempo que o deslocamento forçado entre 2016 e 2017 aumentou de 436.000 pessoas a 457.000, o que afetou, principalmente, El Salvador, Colômbia e México (Conselho Norueguês para Refugiados, 2018).
Resultado de uma experiência de mais de 70 anos de constructos sobre o desenvolvimento, é possível se conscientizar diante da urgência de que a América Latina não necessariamente requer da consolidação da ordem e do progresso próprios dos séculos XIX e XX, mas sim enfatizar na inter-conexão que subjaz dentro das esferas econômica, política, sociocultural e ambiental, bem como nas necessidades, capacidades e potencialidades dos seres humanos e dos territórios (Monroy, 2014); em resumo, é possível dotar esses elementos de consistência teórica e formalizar as alternativas prováveis para o desenvolvimento.
Nesse sentido, neste número da revista Finanzas y Política Económica, cada artigo contribuiu para o debate acerca do desenvolvimento e do crescimento. O convite a ressignificar o desenvolvimento está aberto a qualquer contexto, não somente o latino-americano; contudo, nossa revista é um referente para abordar esse tema na região. Assim, em primeiro lugar, Nieto e Rendón, em seu artigo "A integração regional é um veículo para a convergência? O caso do Mercosul 1990-2014", pretendem resolver o questionamento trazido no título do texto; para isso, revisam o referencial teórico da integração e buscam explicações que justifiquem o processo de integração em torno dessa figura, sob o esquema de união alfandegária e sua vinculação com a convergência. Os autores concluem que o Mercosul não favoreceu o crescimento dos países em termos de PIB per capita.
Por outro lado, Gyula e Siljak, pesquisadores do Instituto de Assuntos Exteriores e Comércio da Hungria, em seu artigo "Convergência econômica dos Bálcãs Ocidentais à UE-15", demonstram que a recente crise financeira na região dos Bálcãs Ocidentais afetou negativamente o processo de convergência absoluta e condicional, quando são incluídas variáveis econômicas como a abertura econômica, a taxa de inflação e a formação bruta de capital fixo.
De forma simultânea, em "Investimento estrangeiro direto e crescimento econômico na Jordânia: uma pesquisa empírica que utiliza o teste de limites de cointegração", Oudat, Alsmadi y Alrawashdeh recopilam indicadores, principalmente do Banco Mundial, a partir dos quais se revela que os responsáveis políticos jordanos se esforçam por atrair mais investimento estrangeiro direto à economia desse país, portanto isso conduz a uma diminuição dos obstáculos econômicos, como a redução da taxa de desemprego e o aumento do nível de investimento produtivo.
Em "Tratado de Livre Comércio Colômbia-Japão: oportunidade comercial? Uma análise ex ante, Venegas e De la Peña esclarecem os efeitos quantitativos de uma redução tarifária entre a Colômbia e o Japão como consequência de um possível acordo comercial; ressaltam que, para alguns setores, são identificadas oportunidades de exportação e sinalizam que os efeitos comerciais são baixos para ambos os países, além de existirem mínimos riscos potenciais.
Por sua vez, Ramón Dangla, no texto "Reforma econômica trabalhista versus conjuntura econômica: o impacto do Fundo de Garantia Salarial sobre as finanças espanholas", evidencia que a reforma trabalhista de 2012 na Espanha, adotada sob a influência da estabilidade orçamentária, foi bem-sucedida e influenciou as contas do Fundo de Garantia Social. Para isso, o autor analisou os orçamentos e buscou, mediante um modelo de regressão linear, as variáveis que melhor explicam as despesas, como a evolução do PIB e outras variáveis econômicas que têm mais peso que a redução de prestações (passivos trabalhistas).
No trabalho "Desemprego juvenil na Colômbia: a educação importa?", García e Castillo estabelecem, a partir da modelação econométrica (logit-probit), fatores que influenciam na taxa de desemprego juvenil. Concluem que há que prestar particular atenção no papel da educação e confirmam a importância desta para conseguir emprego formal, mas não necessariamente para a probabilidade de estar ocupado.
A seguir, Rivera e Rivera em "Crises financeiras: desta vez não é diferente, apresentam uma discussão sobre as principais características teóricas que as diferentes tipologias de crises financeiras têm; afirmam que um banco central está limitado para agir contra bolhas de crédito e que os modelos macroeconômicos atuais não podem explicar corretamente as interações dos mercados financeiros. Os autores deduzem, além disso, que as economias emergentes sofram crises financeiras nos meses próximos.
O artigo de Parra, "Impacto das decisões de política monetária do FED em indicadores da economia colombiana durante o período 2007-2015", conclui que os anúncios de política monetária da Reserva Federal dos Estados Unidos (FED) no período de análise impactaram de maneira significativa o índice COLCAP1 e a taxa representativa do mercado (TRM), em intervalos de 3, 5 e 7 dias, em 93,3 % dos casos.
Finalmente, em "Fundamentos conceituais para estabelecer multas ambientais na Colômbia", Redondo e Ibarra estabelecem uma relevante discussão sobre o estabelecimento de multas ambientais na Colômbia, por meio da qual determinam que a fórmula de taxação de multas por infração ambiental no país é adequada para os processos punitivos desenvolvidos.
Dessa maneira, a revista Finanzas y Política Económica convida seus leitores e autores a se unirem à tarefa de ressignificar o crescimento e, principalmente, o desenvolvimento de nossos contextos. O continente latino-americano se transforma de acordo com as condições de vida das pessoas e das nações, em regiões e realidades continuamente flutuantes em termos materiais e históricos.
Notas
1 O COLCAP é um índice de capitalização que reflete as variações dos preços das ações mais líquidas da Bolsa de Valores da Colômbia (BVC)" (Banco da República, 2018).
REFERÊNCIAS
1. Banco de la República (2018). Indices del mercado bursátil colombiano. Recuperado de http://www.banrep.gov.co/es/indices - del-mercado-bursatil-colombiano
2. Consejo Noruego para Refugiados (2018). Informe mundial sobre desplazamiento interno 2018 - GRID 2018. Recuperado de http://www.internal-displacement.org/global-report/grid2018/downloads/misc/2018-GRID-Highlights-SP.pdf
3. Monroy Flores, V. (2014). VI Congreso en Desarrollo Económico y Calidad de Vida: "Alternativas al desarrollo y buen vivir". Recuperado de https://goo.gl/RK9S1Q
4. Programa de las Naciones Unidas para el Desarrollo (PNUD) (2016). Progreso multidimensional: bienestar más allá del ingreso [Relatório Regional sobre Desenvolvimento Humano para a América Latina e o Caribe]. Recuperado de http://www.latinamerica.undp.org/content/rblac/es/home/library/human_development/informe-regional-sobre-desarrollo-humano-para-america-latina-y-e.html