EDITORIAL

DOI: http://dx.doi.org/10.14718/revfinanzpolitecon.2016.8.1.1

O que significa conseguir a paz na Colombia?

JOAN MIGUEL TEJEDOR ESTUPIÑÁN*

* Mestre em Direitos Humanos e economista. Editor da revista Finanzas y Política Económica, da Universidad Católica de Colombia. Endereço para correspondência: Facultad de Economía, Universidad Católica de Colombia, carrera 13 # 47-49, Bogotá, Colombia. E-mail: jmtejedor@ucatólica.edu.co


Em 24 de setembro de 2015, o governo da Colômbia e as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) deram-se seis meses para chegar a um acordo de paz definitivo e, dessa maneira, inserir, no modelo democrático do Estado de direito, o grupo insurgente mais antigo da América Latina, que nasceu em 1964. Isso implicaria diretamente a participação do grupo guerrilheiro no cenário político do país. Essa guerrilha, inspirada em ideais comunistas e de movimentos rurais, propõe em suas origens a tomada de armas como meio para exigir uma reforma agrária que atenda às demandas da população rural (que, naquele momento, compreendia mais da metade da população do país). Desde então, o conflito bélico, como qualquer guerra, deixou uma onda de violência e morte para ambas as partes em conflito, assim como uma marca indelével na memória dos colombianos.

O fim do conflito de guerrilhas, com os combates, com os bombardeios, com o sequestro, com o narcotráfico e com a dor causada nas vítimas, parece extinguir-se e dar lugar a um estado de paz num país cuja história, desde suas origens coloniais até nossos dias, esteve marcada pela violência.

Nesse sentido, a paz só é entendida como a possibilidade de acabar o conflito entre duas partes, mas se esquece de que esse conceito se estende para os campos da própria economia. Por isso, é necessário chegar a um Estado de direito no qual se manifeste um equilíbrio, por um lado, do bem comum desenvolvido no marco do modelo capitalista predominante no âmbito global -o que significaria um crescimento econômico com bem-estar- e, por outro, o pleno desenvolvimento e as garantias dos direitos humanos.

Dessa maneira, é imprescindível que as instituições que formam o Estado colombiano: os diferentes poderes, o setor privado e a própria população promovam e garantam bem-estar e equilíbrio, com base em políticas econômicas e sociais que respeitem as liberdades sociais e econômicas, a fim de gerar condições de igualdade e pleno exercício dos direitos humanos. Inclusive deve ser defendida a proteção e o desenvolvimento sustentável do meio ambiente, num mundo ameaçado pelo aquecimento global, também originado, entre outros fatores, por esse modelo econômico predominante no âmbito global, cuja expansão implicou a extinção de espécies, inclusive de ecossistemas completos.

Olhar a paz a partir de uma perspectiva que vai além dos limites e impactos do conflito bélico entre as partes deveria também envolver o fim do conflito com o Exército de Liberação Nacional (ELN); o desaparecimento do paramilitarismo, dos grupos criminosos e dos demais atores que geram violência, terror e violação dos direitos humanos; a extinção da corrupção dentro das instituições, que impede o desenvolvimento humano, econômico, social, político e do meio ambiente dentro do Estado colombiano.

Nesse sentido, a maior contribuição que as instituições de educação superior podem dar é garantir uma educação de qualidade em todos os âmbitos, que desenvolva e transmita o conhecimento para, desse modo, superar todos os problemas descritos e chegar a uma paz que está além de um acordo com as Farc.

A partir dessa premissa, a equipe editorial da revista Finanzas y Política Económica, da Universidad Católica de Colombia, apresenta cordialmente aos leitores esta nova edição, que, a partir da perspectiva econômica e do âmbito da pesquisa e da educação, pretende contribuir com a consolidação desse complexo objetivo e tudo o que ele implica.

Esta edição é composta por artigos de autores nacionais e internacionais: começa com o artigo de José Carlos Trejo García, Humberto Ríos Bolívar e Francisco Almagro Vásquez: "Atualização do modelo de risco de crédito, uma necessidade para a banca rotativa no México"; depois temos Eduardo Rosa Rojas, com o documento "A intervenção cambial e os fluxos de capital: evidência empírica para Brasil, Colômbia, Chile e México, 2001-2013"; mais adiante, encontramos Fahd Boundi Chraki, com o artigo "Análise input-output de cadeias produtivas e setores-chave na economia mexicana"; posteriormente, Julián Fernández Mejía e Jorge Mario Uribe, com o texto "Análise de processos explosivos no preço dos ativos financeiros: evidência ao redor do mundo"; em seguida, temos Milton Camelo Rincón e Jacobo Campo Robledo, com o artigo "Análise da política habitacional em Bogotá: um enfoque a partir da oferta e da demanda"; logo, William Avendaño Castro, Luisa Paz Montes e Gerson Rueda Vera, com seu texto "A gestão ambiental nas PMEs do setor de argila em Cúcuta e em sua área metropolitana"; Juan Pablo Herrera Saavedra e Dennis Sánchez Navarro apresentam seu artigo "Efeitos de integrações de empresas em mercados de bens homogêneos"; finalmente, Jimmy Melo compartilha sua reflexão acerca da "Arbitragem limitada sob financiamento com base no desempenho".

Esperamos que essas contribuições continuem fortalecendo a discussão acadêmica, potenciando a pesquisa no âmbito universitário e, com certeza, contribuindo com a construção de uma sociedade colombiana em paz.